"Não sigais descuidadosamente.
Compassai movimentos ao ritmo da ternura, no trato de todos os prisioneiros da provação que nem mesmo se percebem no sofrimento maior.
Crianças que, durante o dia, engolem a poeira alegremente e, à noite, entrebatem os próprios dentes sob o vento gelado, a tremer sem sentir.
Escolares sem escola, alentando os vermes que lhes comem, vorazes, as entranhas anêmicas.
Mocinhas que fogem de pensar nos problemas que lhes retalham a vida, cantarolando a modinha antigramatical.
Rapazes analfabetos que conhecem a moradia pela forma dos edifícios e as cédulas pela cor. Operários tuberculosos que vomitam sangue no intervalo dos seus próprios serviços.
Colonos que enganam o estômago famulento com porções de água salobra, em choças sem espaço, sem ar e sem luz.
Lidadores que aceitam as doenças mais graves por férias forçadas para quebrar a monotonia. Irmãos nossos que a obsessão escraviza à garrafa.
Homens precocemente envelhecidos que conversam sobre os mesmos assuntos de há dez anos. E aquele indigente que procuramos para dar um vintém e que já foi enterrado, há muito tempo, em lugar que ninguém sabe...
Enquanto respirarem semelhantes companheiros padecentes que esperam e se desesperam perto de nós, quais figuras humanas a se esfumarem na margem do caminho que perlustramos, é natural que a alegria perfeita fuja de nós.
Servi o próximo incansavelmente, agora, para que a bondade vos seja inata na próxoma encarnação.
Não apelamos aqui somente para os Espirítos encarnados que enfrentam a prova da fortuna e que, em muitas ocasiões, já são ricos amoedados antes de renascer... Dirigimo-nos especialmente aos irmãos de luta vulgar, aos companheiros anônimos, ainda mais afortunados que os milionários da Terra, pelo conhecimento espiritual que possuem, e cujas existências vezes e vezes, se compõem de horas perdidas e esvoaçantes, na atmosfera das expectativas inúteis.
O espírita-cristão será sempre um homem de instrumentos diversos que busca desempenhar funções multiformes, segundo as injunções em que vive.
Será enfermeiro, consolando os doentes; condutor, dirigindo cegos; preceptor, instruindo crianças; costureiro, vestindo nus; cozinheiro, saciando famintos; mentor, indicando rumo certo aos vizinhos desorientados; pai, junto aos filhos de ninguém, e irmão de quem passe ou lhe surja à frente.
Distribuamos, de alma a cantar, o pão, a veste e o livro; o sorriso, a palavra e a oração; o consolo, a esperança e a fé...
Caridade em marcha!
Se Jesus é o nosso Amigo Constante, é também o Mestre de Sempre, a recorda-nos em cada trecho da vida: -"Em verdade vos digo que, quando fizerdes a um destes meus pequeninos irmãos, é a mim que o fazeis."
Bezerra de Menezes
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