domingo, 13 de setembro de 2009

A religião da Revelação

Quem nos há de dar provas convincentes da imortalidade, senão aqueles que já passaram pelo transe da morte? Quem nos há de falar com autoridade da vida do além, senão aqueles que lá se encontram? A fé personificada em Jesus Cristo é aquela que se baseia na revelação. "Bem-aventurado és Simão, porque não foi a carne nem o sangue quem, por ti, acaba de confessar que eu sou o Cristo, mas meu Pai que está no céu. Tu és Pedro e sobre esta pedra ( a revelação de que Pedro fora o instrumento) edificarei a minha igreja."
Revelação quer dizer comunhão com o além, donde nos é transmitida alguma verdade que nos interessa saber. Daí o testemunho vivo da imortalidade, da vida futura que de lá nos acena em gestos magníficos de solidariedade fraternal.
Há mais júbilo no céu, afirma o Evangelho, por um pecador que se regenera que por noventa e nove justos que não precisam de arrependimento. Isto atesta o fato, para nós importante, de que o Céu não está isolado da Terra, que os de lá acompanham com interesse a vida dos de cá; e tal interesse é tão acentuado e positivo que a vitória do pecador importa em alvoroço festivo na sociedade celeste dos que já triunfaram e fruem o justo prêmio de suas conquistas.
Céu e Terra, anjos e homens, santos e pecadores acham-se todos entrelaçados pelos liames sagrados do afeto, numa comunhão que nada pode quebrar. Tal é a religião da revelação contra a qual as potências do mal jamais prevalecerão. Tais são as chaves que nos abrem os pórticos dos tabernáculos eternos. Tal é a força que liga na Terra o que está ligado no Céu, e liga no Céu o que está ligado na Terra.
Bem-aventurada seja a consoladora religião da revelação que irmana todos os seres, vinculando-os num soberbo e majestoso amplexo de amor.

Vinícius

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Quem é o meu próximo?

Quem é meu próximo? Indagou de Jesus um rabino da sinagoga.
à guisa de resposta, o Mestre contou-lhe a seguinte parábola:
- Viajava certo homem, de Jerusalém a Jericó. No trajeto foi assaltado por ladrões que o espoliaram e espancaram barbaramente, deixando-o semimorto à beira da estrada.
Aconteceu transitar por ali um sacerdote que, vendo-o, passou de largo. Do mesmo modo também um Levita, chegando ao lugar e deparando com o ferido, passou de largo...
Um samaritano, porém, ao passar pela referida estrada, vendo o viajor, aproximou-se dele cheio de compaixão. Pensou-lhe as feridas, reanimou-o, e, levando-o consigo até à primeira hospedaria, ali o deixou entregue aos cuidados do estalajadeiro, pagando antecipadamente as diárias prováveis para seu completo reestabelecimento.
Qual destes três te parece haver sido o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores?
Retrucou o rabino da sinagoga! Aquele que usou da misericórdia para com ele.
Vai-te, e faze o mesmo - Concluiu jesus.
Do apólogo imaginado pelo Mestre, aprendemos que, ser próximo, quer dizer usar da misericórdia para com aqueles que sofrem ao nosso lado.
Quem se conserva, portanto, impassível diante do alheio infortúnio, como fizeram o sacerdote e o levita, não é o próximo de ninguém. E quem não é próximo de ninguém, é herege, é ateu, está fora da lei de Deus, embora se apresente revestido de todas as insígnias e distintivos peculiares ao credo mais reverenciado pelo mundo.
Nosso próximo, como o próprio termo designa, é aquele que está perto de nós; porém perto pelo coração, pela solidariedade, pelo amor.
Neste caso, a distância não se mede por metros ou quilômetros, mas pelos graus de vibratilidade dos sentimentos. Podemos ter alguém ao nosso lado, sob o mesmo teto, sem que, contudo, possamos contar com a sua cooperação nos sucessos de nossa vida. Tal pessoa, em verdade, não está perto de nós: está muito longe, visto que não se afeta com aquilo que nos diz respeito. De outra sorte, pode haver alguém que, encontrando-se em hemisfério oposto àquele em que nos achamos, esteja, contudo, ao nosso lado, muito perto de nós pela dedicação e pelo afeto que nos vota.
Ser próximo por conseguinte, é ser solidário, ser fraterno, ser dedicado: é, numa palavra, amar o semelhante, compartilhando, tanto de suas alegrias como de suas desventuras: daquelas, para engrandecer seu gozo; destas, para amenizar-lhe a dor.
De tal conceito, ressalta a sabedoria incomparável deste lema genuinamente evangélico: "fora da caridade não há salvação."

Vinícius


terça-feira, 1 de setembro de 2009

Fé, Esperança e Caridade

A esperança está para a fé como o sol está para a lua. Esta não tem luz própria: reflete aquela que recebe do sol. Daí porque a lua difunde raios pálidos, merencórios e isentos de calor, enquanto o sol esparge raios intensos e fúlgidos que, além de iluminar, aquecem e vivificam.
O sol mesmo é luz; a lua não é reflete a luz recebida. Assim a fé: é força comunicativa que, do coração de quem a tem, passa reflexamente para o coração de outrem, gerando neste a esperança.
Jesus tinha fé. Seus apóstolos e discípulos tinham esperança gerada pela fé exemplificada de seu Mestre. Os corações que de Jesus se aproximam e estabelecem com ele certa comunhão iluminaram-se com a luz patente do seu imaculado espírito.
A lua clareia os caminhos. O sol alumia e fecunda a estrada da vida. A lua é poética, faz cismar e sonhar. O sol é energia: movimenta, vivifica, ativa e produz. A luz amortecida do satélite da Terra mostra os obstáculos; a luz brilhante e vívida do sol distingue e remove os tropeços da senda do destino.
Assim, a esperança faz nascer no coração do homem as boas e nobres aspirações; só a fé, porém, as realiza. A esperança sugere, a fé concretiza. A esperança desperta nos corações o anseio de possuir luz própria; conduz, portanto a fé. Quem alimenta esperança está, invariavelmente, sob o influxo da fé oriunda de alguém. A força da fé é eminentemente conquistadora. Quem admira os exemplos e os feitos edificantes põe-se desde logo em harmonia com o poder de quem os realizou. Este projeta naquele suas influências benfazejas: é o sol fazendo a lua refletir a sua luz, ou seja, a fé gerando a esperança.
Benvinda seja a esperança! Bendita seja a fé! Uma e outra espancam as trevas interiores. Que seria da alma encarcerada na carne se não houvesse fé, nem esperança!
Se é doce ter esperança, é valor e virilidade ter fé. Se a esperança gera o desejo, a fé gera o poder. Se a esperança suaviza o sofrimento, a fé neutraliza seus efeitos depressivos. Finalmente, se a esperança sustenta o homem nas lutas deste século, a fé assegura desde já a vitória da vida sobre a morte.
E a caridade? Da caridade nada podemos dizer, porque - a caridade é amor - e o amor é o indivisível, o incomparável; sente-se como a mesma vida: não se define.
Vinícius